Testemunho de pessoa com TCE há menos de um ano
No início era tudo diferente e novo para mim. O que já conhecia há anos era novidade. Quando saí da clínica de reabilitação, ir aos sítios e localidades que conhecia perfeitamente, para mim, era tudo novo, como se nunca os tivesse visto antes. Mas, com o passar do tempo e visitando-os mais vezes, começou a fazer sentido na minha cabeça. Em relação a lembrar-me das coisas, ainda está difícil, bem tento melhorar, mas é uma coisa com a qual já me habituei a viver. Fico é muito frustrado quando me dizem que devia ter feito aquilo e eu sabia disso e não fiz por esquecimento. As condições físicas não são as melhores, mas também já me habituei. O lado direito está muito fraco, correr também só na fisioterapia. Paciência para fazer ou aturar certas coisas não tenho e irrito-me muito. Sinto-me um inútil nestes momentos porque também acho que ninguém me dá ouvidos e não escuta as minhas opiniões porque estou com este problema. Sinto-me à parte muitas vezes e o que faço é isolar-me sem nada nem ninguém por perto. Apesar de tudo isto, ninguém sabe o que já passei como perder a minha irmã quando eu era miúdo de 9 anos e ela tinha 16 anos. Morreu afogada. Um amigo meu na escola deu um tiro na cabeça sem ninguém estar a contar com isso e outras coisas que já não me lembro. Basicamente, quero ser para a minha mulher e minha filha uma pessoa alegre e divertida e não uma pessoa arrogante e antipática. Ter muito para lhe dar a elas e à minha família. Não quero ser visto como um coitadinho porque sou desenrascado. Problemas todo o mundo tem. Depende é dos problemas e de como os resolve. Agora tenho uma batalha longa para ganhar.
Resumindo o texto: NAO VOU FICAR AMARRADO ÀQUILO QUE FUI E A PENSAR NO QUE PODERIA TER SIDO. Agora é começar a aproveitar esta segunda oportunidade que a vida me deu. Que não está a ser fácil nem descomplicada.