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Dano Cerebral Adquirido

O dano cerebral adquirido é uma lesão que ocorre no cérebro, que não é congénita nem degenerativa, e tanto pode ser causada por acontecimentos internos – como por exemplo acidentes vasculares cerebrais (AVC), tumores, infeções ou situações de anoxia cerebral –  como externos – o traumatismo cranioencefálico (TCE).

Os danos cerebrais adquiridos trazem, muitas vezes, consequências relevantes a nível familiar, social e profissional.

Sobre o Cérebro

(explicado de forma simples)  

O cérebro é um órgão muito complexo, responsável por: coordenar os pensamentos, as emoções, o comportamento, as sensações e os movimentos, regula o sistema autónomo do nosso corpo e a produção de hormonas.

Para que isso seja possível, os biliões de células nervosas que o compõem comunicam entre si através de sinais químicos e elétricos complexos. A textura deste órgão é gelatinosa e a sua forma – que pode pesar entre 1,2kg e 1,4kg – é sustentada por um líquido chamado cefalorraquidiano. O cérebro tem uma fisionomia enrugada e divide-se em duas partes: o hemisfério esquerdo e o hemisfério direito, que comunicam entre si através do corpo caloso. Em cada um dos hemisférios podemos ainda identificar quatro áreas distintas, a que se dá o nome de lóbulos: o frontal, o parietal, o occipital e o temporal.

Hemisférios

Na maioria das pessoas, o hemisfério esquerdo tem dominância sobre o direito nas funções verbais, como a linguagem, o pensamento e a memória de palavras. Este hemisfério controla o lado direito do corpo e, por essa razão, um dano no hemisfério esquerdo pode causar problemas nos movimentos ou falta de força no lado direito do corpo.

O hemisfério direito tem dominância sobre o esquerdo no controlo das funções não verbais, como o reconhecimento de diferentes padrões visuais ou desenhos, a leitura e a interpretação de mapas e da música. O hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo.

O efeito do dano cerebral pode ser determinado pela localização do dano. (ver fig. 2).

(agradecemos ao Centro de Reabilitação de Gaia e ao Dr. Nuno Lobo Antunes a cedência desta informação).

 

Sobre o Traumatismo Crânioencefálico (TCE)

É uma disfunção cerebral, transitória ou permanente, que resulta do impacto entre o crânio e um agente externo, como sucede por exemplo numa queda, ou quando se é atingido por um projétil.

Tipos de TCE

Há traumatismos cranianos cuja disfunção é transitória e designa-se como concussão e, no caso de ser permanente, contusão. Consoante a força do impacto, entre outros fatores, as consequências serão diversas. Um dano localizado também pode ser causado por uma fratura do crânio, ou quando um objeto entra na cabeça e danifica o tecido nervoso.  Quando a cabeça é atingida num determinado ângulo e faz um movimento de rotação, as células nervosas de várias áreas do cérebro podem ser comprimidas em simultâneo, causando uma lesão alargada. Esta situação é conhecida por lesão difusa. Este tipo de lesão pode acontecer sem fratura ou penetração do crânio. O Traumatismo Cranioencefálico pode resultar da combinação de uma lesão cerebral difusa e localizada.

Causas de TCE

Quando uma força exterior é exercida sobre o crânio podem ser afetadas várias áreas do cérebro. As causas de danos mais comuns estão relacionadas com pancadas na cabeça, acidente de viação, quedas, entre outras. A resposta a este trauma é variada e a pessoa pode sentir-se, ligeiramente, tonta ou ficar inconsciente durante minutos, horas ou mesmo dias. A força e a intensidade são importantes para determinar a gravidade do dano no crânio e no cérebro.

Outro fator importante para determinar um dano é a direção do impacto no crânio. Quando a cabeça é atingida no cérebro desloca-se rapidamente para a frente e depois para trás contra o interior do crânio. Este movimento pode causar lesões localizadas na zona de impacto inicial, na zona oposta ou em ambas. Este tipo de dano chama-se o golpe-contragolpe (ver fig. 3).

Danos causados por TCE

Um traumatismo craniano, de alguma gravidade, provoca uma alteração do estado de consciência. Os sintomas relacionam-se com a área do cérebro afetada e podem ser motores, como paralisias, ou sensitivos, visuais etc. É comum haver consequências cognitivas como alteração da memória, como cefaleias, entre muitas outras.

(agradecemos ao Centro de Reabilitação de Gaia e ao Dr. Nuno Lobo Antunes a cedência desta informação).

 

Sobre o Acidente Vascular Cerebral (AVC)

O acidente vascular cerebral (AVC) acontece quando a corrente sanguínea no cérebro diminui ou é subitamente interrompida devido ao rompimento de um vaso.

Existem dois tipos de AVC, o isquémico é o mais comum e ocorre quando um dos vasos sanguíneos no cérebro fica bloqueado, impedindo a livre circulação de oxigénio e de nutrientes para as células presentes nas diferentes áreas cerebrais, levando à morte celular nessas áreas e a uma alteração do funcionamento cerebral. Esse bloqueio é normalmente causado por um coágulo sanguíneo ou acúmulo de placa nos vasos sanguíneos. O segundo tipo de AVC é o hemorrágico, que ocorre quando há sangramento no tecido cerebral ou ao seu redor, em consequência do rompimento de um vaso sanguíneo. Esse sangramento pressiona as células cerebrais e pode danificá-las, interrompendo as funções vitais.

Fatores de risco

Existem vários fatores que podem aumentar o risco de AVC, incluindo:

  • Pressão alta
  • Fumar
  • Diabetes
  • Colesterol alto
  • Obesidade
  • Falta de exercício físico
  • Consumo excessivo de álcool
  • História familiar de acidente vascular cerebral

 

Sinais e sintomas

Reconhecer os sinais do acidente vascular cerebral é crucial para procurar atendimento médico imediato.

  • Fraqueza, dormência ou perda da sensibilidade repentina num dos lados do corpo.
  • Confusão súbita, dificuldade para falar ou entender a fala.
  • Perda total ou parcial da visão ou visão turva.
  • A pessoa pode sentir uma súbita dificuldade em caminhar, sentir tonturas, perda de equilíbrio ou coordenação.
  • Uma dor de cabeça severa e súbita, muitas vezes descrita como a pior dor de cabeça que alguém já teve, pode ocorrer no AVC hemorrágico (quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe).

 

Prevenção

Embora alguns dos fatores de risco para o AVC não possam ser controlados, como a idade e a história familiar, outros, como mudanças no estilo de vida e vigilância médica, podem ter um impacto positivo nas causas que representam maior risco de AVC. Referimo-nos a manter uma dieta saudável, praticar exercício regularmente, controlar o stress, parar de fumar, limitar a ingestão de álcool e controlar a pressão alta, os diabetes e o colesterol alto.

 

Sobre o Aneurisma Cerebral

O aneurisma é uma dilatação na parede num dos vasos sanguíneos do cérebro, formando uma espécie de bolha. Dependendo da gravidade, quando uma destas bolhas rebenta, a pessoa pode sofrer lesões cerebrais graves ou até mesmo levar à morte. O aneurisma é uma das principais causas de AVC e como tal, os fatores de risco e os sintomas são idênticos.

 

Sobre os Tumores Cerebrais

Os tumores cerebrais caracterizam-se pelo crescimento anormal de células no cérebro. Estes podem ser benignos (não cancerígenos) ou malignos (cancerígenos). Os tumores primários são aqueles que têm origem no próprio tecido cerebral; e os tumores secundários podem-se alastrar para o cérebro a partir de outras partes do corpo (tumores secundários ou metastáticos).

 

Os tumores cerebrais mais frequentes são:

Gliomas: Tumores que se originam das células gliais, que sustentam e nutrem os neurónios. Os gliomas incluem astrocitomas, oligodendrogliomas, ependimomas e glioblastomas.

Meningiomas: Tumores que se desenvolvem nas meninges, as camadas protetoras que envolvem o cérebro e a medula espinal.

Tumores hipofisários: Tumores que se desenvolvem na glândula pituitária, uma pequena glândula na base do cérebro que regula a produção hormonal.

Meduloblastomas: Tumores que normalmente se desenvolvem no cerebelo. São mais comuns em crianças.

Tumores cerebrais metastáticos: Tumores que se originam de células cancerígenas em diferentes partes do corpo e se espalham para o cérebro.

 

Causas dos tumores cerebrais

A causa exata da maioria dos tumores cerebrais é desconhecida. No entanto, certos fatores de risco podem aumentar a probabilidade de desenvolver um tumor cerebral, incluindo:

 

  • Predisposição genética
  • Exposição à radiação ionizante
  • Distúrbios do sistema imunológico
  • Fatores Ambientais

 

Sinais e sintomas

Os sintomas de um tumor cerebral variam dependendo do tamanho, localização e taxa de crescimento. Os mais comuns podem incluir:

 

  • Dores de cabeça que pioram com o tempo
  • Convulsões
  • Náuseas e vómitos
  • Alterações na visão, audição ou fala
  • Dificuldade no equilíbrio ou coordenação
  • Fraqueza ou dormência nos membros
  • Alterações da personalidade ou do comportamento

 

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico de um tumor cerebral geralmente envolve uma combinação de exames de imagem, como a ressonância magnética ou a tomografia computadorizada, exames neurológicos e biópsia. As opções de tratamento podem incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia medicamentosa direcionada ou uma combinação destas abordagens. A escolha do tratamento depende de fatores como o tipo e localização do tumor, o seu tamanho e a saúde geral do paciente.

 

Sobre a Anoxia Cerebral

A anoxia cerebral ocorre quando o cérebro é privado de oxigénio, causando lesões nas células cerebrais e potencial comprometimento das funções cerebrais.

Causas

A anoxia cerebral pode ser causada por vários fatores, incluindo:

  • Paragem cardíaca
  • Asfixia
  • Situações de quase afogamento
  • Asma grave ou insuficiência respiratória
  • Envenenamento por monóxido de carbono
  • Overdose de drogas
  • AVC
  • Complicações anestésicas durante uma cirurgia
  • Certas condições médicas que perturbam a circulação sanguínea ou a oxigenação

 

Sintomas

Os sintomas da anoxia cerebral podem variar dependendo da gravidade e duração da privação de oxigénio, bem como das áreas do cérebro afetadas. Nos sintomas mais comuns incluem-se:

 

  • Confusão ou desorientação
  • Perda de memória
  • Dificuldade em falar ou compreender a linguagem
  • Função motora ou coordenação prejudicada
  • Mudanças de humor ou comportamento
  • Convulsões
  • Coma ou inconsciência

 

Sobre a Hidrocefalia

 

A hidrocefalia é uma condição na qual há uma acumulação de líquido cefalorraquidiano (LCR) no cérebro. Quando este líquido, que envolve e amortece o cérebro e a medula espinal, não é drenado normalmente a pressão intracraniana aumenta e sobrecarrega o cérebro. Quando falamos de hidrocefalia, esta pode ser congénita (quando está presente no nascimento), adquirida (resultado de outra patologia cerebral) ou de pressão normal (afeta principalmente os idosos).

 

Causas

As causas pelas quais o LCR se acumula no cérebro podem estar relacionadas com a obstrução da circulação do líquido, a falha na sua absorção ou produção excessiva. Na origem desta acumulação podemos considerar:

  • Fatores genéticos
  • Uso de drogas ou excesso de consumo de álcool pela gestante durante a gravidez
  • Infeções
  • Tumores
  • Hemorragias
  • AVC
  • Traumatismos

 

Sintomas

  • Dores de cabeça
  • Náuseas
  • Vómitos
  • Visão turva
  • Dificuldades na marcha e no equilíbrio
  • Sonolência
  • Convulsões
  • Irritabilidade
  • Alterações da personalidade e das funções cognitivas
  • Nas crianças, aumento do tamanho da cabeça

 

Sobre a Encefalite

 

A encefalite é uma doença rara, mas grave, que ocorre quando o cérebro inflama, geralmente devido a uma infeção causada por um vírus.

 

Causas

A encefalite é causada pela exposição a um determinado vírus, através de picadas de insetos (por exemplo a encefalite do Nilo Ocidental), de água ou alimentos contaminados (por exemplo o enterovirus), pela respiração ou contacto direto (por exemplo o herpes simplex).  Para além dos vírus, a encefalite pode também ser causada por reações alérgicas a vacinas, doenças autoimunes, reações alérgicas aos tratamentos do cancro, bactérias (tuberculose, sífilis e Lyme) ou algum parasita (cisticercose, nematoides e toxoplasmose).

 

Sintomas

  • dores de cabeça
  • febre
  • confusão,
  • sonolência
  • convulsões
  • em casos graves, coma

 

Consequências do dano cerebral adquirido

As consequências do DCA podem variar amplamente dependendo da gravidade, localização e extensão do dano, assim como das características individuais do doente. Aqui estão algumas das possíveis consequências:

 

Alterações Cognitivas: Um dano cerebral adquirido pode afetar várias funções cognitivas, como a memória, a atenção, a concentração, o raciocínio, a resolução de problemas e a capacidade de aprendizagem. Isto pode resultar em dificuldades no trabalho, na escola e nas atividades da vida diária.

Dificuldades de Comunicação: Problemas de comunicação, incluindo dificuldades na fala, compreensão da linguagem, expressão verbal e escrita, podem ocorrer como resultado de um dano cerebral.

Deficiências Motoras: Os danos cerebrais podem levar a fraqueza, falta de coordenação, espasticidade muscular e dificuldades de equilíbrio e na marcha. Isto pode resultar em limitações na mobilidade e na realização de atividades físicas, como vestir-se, alimentar-se e deslocar-se.

Alterações Sensoriais: Alterações na visão, audição, paladar, olfato e sensibilidade tátil podem ocorrer após um dano cerebral. Isso pode afetar a perceção sensorial e a capacidade de interpretar e interagir com o ambiente.

Alterações Emocionais e Comportamentais: Muitas pessoas com dano cerebral adquirido experimentam mudanças significativas no humor, comportamento e regulação emocional. Isso pode incluir depressão, ansiedade, irritabilidade, impulsividade, falta de controle emocional e dificuldades de adaptação às mudanças na vida.

Problemas de Saúde Mental: Danos cerebrais podem aumentar o risco de desenvolvimento de problemas de saúde mental, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

Dificuldades na Vida Diária: As consequências de um dano cerebral adquirido podem impactar significativamente a capacidade de uma pessoa realizar atividades diárias, manter relacionamentos significativos, participação em atividades sociais e de lazer e manter a independência e a autonomia.